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sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Poema: Reconstrução

 Deixe eu catar meus pedaços que ficou pelo caminho

Permita respirar um pouco
Enquanto estou sufocado pelas tuas palavras
Minha vida teria mais sentido
Se não tivesse sido criado nesse hospício
De ideias ultrapassadas
Agora só resta um pessoa ferida
Tentando remendar o coração
Com todos os retalhos que era parte de mim
Do eu que já nem sei mas quem sou
E aos poucos vou encontrando pedaços de mim
Dia após dias, acho meus cacos

Eu estou reconstruindo 
A criança que eu costumava ser
Mesmo sendo impossível vê-la
Ter ideia do que fui
Em retalhos encontro requicios do que fui
Permita o vislumbre do que eu fui
Enquanto a luz se apaga
Enquanto me afundo em mar de solidão
Enquanto tu me joga na cisterna
Deixa eu olhar pela última vez
A vida que tu me impediu de viver

Deixe-me acalmar minha mente
Enquanto eu parto para última jornada
A última de minha vida
Enquanto ajunto os trapos da minha existência
E cálculo o quanto de força ainda me resta
Se elas ainda servirão para arrastar a carcaça que sobrou de meu corpo
Nesse êxodo de liberdade pós escravidão
Do anos de solidão
Que tu me aprisionou
Então me deixe parti
Com o saco de migalhas que tu me presenteou
Como retribuição
Pelos anos de dedicação
Permita eu viaja na solidão
Nessa escuridão
Que é melhor do que a crueldade
De teu braços espinhosos
E de tua suposta compaixão

Me deixa aqui
Enquanto vejo meus sonhos
Caindo como cinzas
Bem no momento em que coloquei a mão no topo
E tu pisaste para que eu caísse
Então não me venha com esse discurso de um ser amoroso
Que joga seu amado em um despenhadeiro porque ama
Eu me arrastei a vida toda em busca de aceitação
Enquanto via apenas teu vulto em cada curva da estrada
Enquanto em cada lágrimas que escorria do meus olhos
Via como um conforto de tua presença
E quando orava, diante de minhas mãos trêmulas
Eu via minha esperança escorrendo pelos meus dedos
Enquanto eu ainda insistia que tu viria me salvar

Deixe me aqui
Com todo o estrago que tuas palavras me provocou
Pois sou eu que vou ter que levantar desses escombros
Enquanto muitos olham pra montanha imóvel esperando ela se mover
Eu e milhares estamos a morrer
Me deixe olhar meus sonhos em cinza caindo
Pois eu perdi a mim mesmo
Implorando por atenção
Me destruí no processo gritando pelo teu nome
E em cada soprar do vento
Ainda espero tua presença
Mas sei que você se perdeu no tempo
Então me deixe aqui voltando ao começo
Enquanto cato meus pedaços pela estrada
E vejo requicios de meus sonhos e esperança
Como cinzas caindo
E sendo arrastados pelo vento
Eu volto ao início sozinho
Cantando meus pedaços
Pelo caminho.

Samuel 03/11/2023

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