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domingo, 26 de novembro de 2023

Poema: Sem forma

 Eu sou a voz nunca ouvida

O rosto do outra lado da mesa
Sem aparência esquecida
O som que não ecoa
E as mãos estendidas

A voz silenciada
O coração não amado
A partida sem regresso
Silenciadado em excesso

A opinião nas roda de conversa evitada
Desfigurada forma
Imagem sem reflexo
Gemido inexpressado

Eu sou o contexto
Descontextualizado
A cor rotularizada
A negritude criminalizada

A voz no gueto
O abatido no beco
A cor no noticiário
O adjetivo ao invés de nome
Na machete estampado

No discurso sou mimi
Na crítica vitimismo
Na entocado
O adolescente vítima do tiro

Na manifestação
Sou diversidade
Mas nas ruas
Sou rosto desfigurado

Na pós revolta
Eu sou estado solidificado
Situação imutável
No regresso da passeata
Eu volto ao anonimato

Samuel Sousa Lima ( 23 /11/2023)

Poema: Desesperança

 Enquanto eu fico aqui se apagando no tempo

Em palavras não dita

Em grito entalado no peito 

Me perco no tempo

Me escorro em frágil esperança

Que se esvai pela minhas trêmulas mãos

Me desfaço da expectativa da vida 

Não há mais o que esperar dessa existência

Já pode esvair meu fôlego de vida 

Talvez em outra existência

Em outro ciclo

Eu posso encontrar a liberdade

Que um dia almejei. 


Samuel Sousa Lima 23/11/23


segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Poema: Fingimento

 Deixe me fazer de valente 

Enquanto seguro a última gota de sangue

Que insisti em sangrar 

Deixe no meu silêncio

Enquanto me engasgo com o grito 

Que esforço, dentro de mim, aprisionar


Já posso olhar para trás

E ver no cais 

A vida que ficou para trás


Deixe, me deixe 

Eu despedir da esperança

Dessa tola criança

Que já não existe mais 


A primavera falhou 

O outono pulou 

E a brisa da esperança

A tão sonhada 

Se mostrou como verdadeiro vapor 

Em verão se tornou 

E só há desolação


Deixe-me lamentar minha existência

Não a coerência alguém lamentar 

Pois sou eu que depois do deserto 

E do mar de desgosto 

Vou no espelho meu rosto 

De falhas e de indignação 

Visualizar 


Deixe me murmurar

No silêncio 

Segurando minha lamúrias

Enquanto a última gota de lágrima 

Do meu olhos 

Insiste em rolar 


Deixe me cessar meu pranto 

Seguir no meu desencanto

Do sonho quebrado 

E da vida pacata

Que tenho que retornar


Deixe eu seguir a minha vida 

Sem expectativa

Sem encanto 

Pois é melhor ficar no meu canto 

Do que na tua esperança falida 

Eu confiar.  


(Samuel 20/11/2023)













sexta-feira, 10 de novembro de 2023

Poema: Falsa esperança

 O peso da escravidão

Machuca meus ombros
Em esbaforido ar de ansiedade
Reverbera em vibrado dos meus lábios
Os sinais de esgotamento
De anos de espera
E de congelado tempo
De solidão

Queria a liberdade
Mas o tempo passa
E na minha idade
Mostra a prisão
Que me encacerou
Essa triste
Existencialidade

Em meu peito
O grito sufocado
No rosto
A enrugada expressão
Da depressão
E da ansiedade

Que denota
Um tristeza profunda
Uma crescente desesperança
Uma ilutada vida
De passos que não me levaro a lugar nenhum
Mas que em frágil argumento
De uma vida de aparente feliz conota

Sensibilizada pelo tempo
Disoluta na essência
Espera o martirizado vento
Que traga um futuro esplendoroso
Mas se desiludi
Em circunstância
Degradante e morre em ânsia
De ansiedade vomitante.

Samuel Sousa Lima
(10/11/2023)

sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Poema: Reconstrução

 Deixe eu catar meus pedaços que ficou pelo caminho

Permita respirar um pouco
Enquanto estou sufocado pelas tuas palavras
Minha vida teria mais sentido
Se não tivesse sido criado nesse hospício
De ideias ultrapassadas
Agora só resta um pessoa ferida
Tentando remendar o coração
Com todos os retalhos que era parte de mim
Do eu que já nem sei mas quem sou
E aos poucos vou encontrando pedaços de mim
Dia após dias, acho meus cacos

Eu estou reconstruindo 
A criança que eu costumava ser
Mesmo sendo impossível vê-la
Ter ideia do que fui
Em retalhos encontro requicios do que fui
Permita o vislumbre do que eu fui
Enquanto a luz se apaga
Enquanto me afundo em mar de solidão
Enquanto tu me joga na cisterna
Deixa eu olhar pela última vez
A vida que tu me impediu de viver

Deixe-me acalmar minha mente
Enquanto eu parto para última jornada
A última de minha vida
Enquanto ajunto os trapos da minha existência
E cálculo o quanto de força ainda me resta
Se elas ainda servirão para arrastar a carcaça que sobrou de meu corpo
Nesse êxodo de liberdade pós escravidão
Do anos de solidão
Que tu me aprisionou
Então me deixe parti
Com o saco de migalhas que tu me presenteou
Como retribuição
Pelos anos de dedicação
Permita eu viaja na solidão
Nessa escuridão
Que é melhor do que a crueldade
De teu braços espinhosos
E de tua suposta compaixão

Me deixa aqui
Enquanto vejo meus sonhos
Caindo como cinzas
Bem no momento em que coloquei a mão no topo
E tu pisaste para que eu caísse
Então não me venha com esse discurso de um ser amoroso
Que joga seu amado em um despenhadeiro porque ama
Eu me arrastei a vida toda em busca de aceitação
Enquanto via apenas teu vulto em cada curva da estrada
Enquanto em cada lágrimas que escorria do meus olhos
Via como um conforto de tua presença
E quando orava, diante de minhas mãos trêmulas
Eu via minha esperança escorrendo pelos meus dedos
Enquanto eu ainda insistia que tu viria me salvar

Deixe me aqui
Com todo o estrago que tuas palavras me provocou
Pois sou eu que vou ter que levantar desses escombros
Enquanto muitos olham pra montanha imóvel esperando ela se mover
Eu e milhares estamos a morrer
Me deixe olhar meus sonhos em cinza caindo
Pois eu perdi a mim mesmo
Implorando por atenção
Me destruí no processo gritando pelo teu nome
E em cada soprar do vento
Ainda espero tua presença
Mas sei que você se perdeu no tempo
Então me deixe aqui voltando ao começo
Enquanto cato meus pedaços pela estrada
E vejo requicios de meus sonhos e esperança
Como cinzas caindo
E sendo arrastados pelo vento
Eu volto ao início sozinho
Cantando meus pedaços
Pelo caminho.

Samuel 03/11/2023

Poema: Arrastado

 Fui arrastado Pela vastidão deste amor Fraco e desarmado Cego à trama que se urdia Como um inseto ingênuo na teia da aranha Me atirei de ca...