O Abraço do Abismo
Como olhar para o abismo,
E, mesmo enxergando a escuridão,
Abraçá-la como uma velha amiga?
Eu busquei a luz um dia,
Ao ponto de queimar os olhos,
Atirei-me na ilusão de seu brilho,
Certo de que meus caminhos não eram tortuosos.
Mas o problema da luz
É que a soberba dos olhos nos engana.
E então, ao fechar os olhos, só havia escuridão.
Olhar o abismo não é escolha,
Mas minha natureza me chamando.
A felicidade me apareceu tediosa,
Exagerada demais — então mergulhei.
Pois para entender a ilusão da iluminação,
É necessário ter um ponto de contraste.
Logo, tocar a escuridão foi minha virada.
Ela me chamava ao ponto inicial,
Para que eu entendesse que o clarão era um fiasco,
E que, em seu foco, eu era um palhaço.
Há algo grandioso por trás de cada palavra não dita,
Cada mentira disfarçada de verdade,
Como a vaidade transvestida de santidade.
Há um abismo profundo, em palavras impronunciável,
E em verdade, insondável.
Fechei meus olhos e me lancei na escuridão,
Em seus braços solitários e frios.
Vi uma projeção de mim mesmo,
No grande teatro da ilusão,
Interpretando o tolo, sem máscara, sem razão.
A magnitude de seus tentáculos envolventes
Era grande demais.
E só no abismo, na escuridão,
Ver sua estranheza fui capaz.
09 de Setembro de 2024
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